13/12/13

Lord of the Flies - O Deus das Moscas - William Golding - 1954


Um avião despenha-se numa pequena ilha deserta, deixando como únicos sobreviventes um grupo de crianças de idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos. Algo desorientadas de início, rapidamente tomam consciência de que estão entregues a si mesmas, sem adultos por perto para lhes indicarem o que devem fazer ou como se devem comportar - mas também para lhes assegurar o sustentáculo necessário à vida tal como estavam habituadas até aí, comida, um lar, e a afeição natural do ambiente familiar. Alguns dos mais velhos começam, logo nesta fase, a anhar um protagonismo que lhes é natural, tentando orientar as acções dos restantes sobreviventes.

Numa primeira reunião de assembleia, é escolhido um líder e são estabelecidos procedimentos para regular a vida na nova sociedade: uma fogueira será levantada e alimentada continuamente, de maneira a servir de aviso a possíveis navios que passem perto do local; uma série de abrigos será construída para servir ao descanso nocturno, colocando-os longe da escuridão ameaçadora da noite; e será escolhido um grupo de caçadores para trazerem carne para as refeições, em alternativa aos frutos que vão apanhando do chão e que não chegam para os manter bem nutridos. Envolvidos pelo clima paradisíaco da ilha, com longas praias rodeadas de uma selva luxuriante e livres para brincarem ao que bem lhes apetece, a crianças vivem momentos de intensa euforia.

A ordem e a intenção vão, no entanto, desvanecer-se aos poucos, à medida que o laxismo, a ausência de uma autoridade soberana comummente aceite, o aparecimento de um estranho monstro que os coloca nos limites da histeria, e a necessidade imperiosa de sobrevivência, vão arrastando o grupo para um estado semi-selvagem, em que a face mais negra dos seus caracteres emerge para dominar.

Escrito em 1954 por William Golding (Nobel da literatura em 1983), O Deus das Moscas, para além de uma poderosa e inquietante abordagem à questão da necessidade de regras sociais, pode ser entendido como uma aterradora parábola sobre o fascínio que o mal exerce sobre o ser humano.

O livro está orientado como uma descida progressiva ao inferno da alma humana, e torna-se particularmente incisivo na medida em que apresenta às crianças um cenário natural dotado de todas as condições para lhes proporcionar felicidade (há quem aponte um sentido metafórico relativamente ao Jardim do Éden). Se de início a nossa atitude perante os acontecimentos é a mais completa passividade, em muito pouco tempo sentimos o horror e a vontade de entrar história adentro para "corrigir" a ordem das coisas. É que às páginas tantas, já não vemos apenas o simples esquecimento, o simples desprender, em relação ao sentido de humanidade presente na memória do grupo. Vemos uma renúncia declarada e consciente, o abraçar da escuridão.

Um clássico indispensável, para ler e colocar na prateleira ao lado de 1984.

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