27/01/14

Um homem é uma ilha



«Vivemos junto de outros seres humanos, agimos sobre os nossos semelhantes e reagimos aos gestos deles; porém, sempre e em todas as circunstâncias, estamos sós. Os mártires entram de mãos dadas na arena; são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes tentam desesperadamente fundir os seus êxtases isolados numa única transcendência; em vão. A própria natureza dos espíritos encarnados condena-os inevitavelmente a sofrer e a deleitar-se na solidão. As sensações, os sentimentos, as reflexões, os gostos - tudo isto são impressões privadas e, exceptuando por meio de símbolos e em segunda mão, incomunicáveis. Podemos reunir e cruzar informação acerca das experiências alheias, mas nunca as experiências em si. Da família à nação, qualquer grupo humano é uma sociedade de universos isolados.

A maior parte desses universos isolados é suficientemente semelhante entre si para permitir um certo grau de compreensão dedutiva, ou até empatia mútua ou «partilha de sentimentos». Assim, recordando as nossas próprias mágoas e humilhações, podemos sentir-nos próximos de outras pessoas em circunstâncias análogas, podemos pôr-nos (sempre, é claro, num sentido ligeiramente abstruso da expressão) no lugar delas. Em certos casos, porém, a comunicação entre universos é incompleta ou até inexistente. A mente é um lugar de características únicas, e os lugares habitados pelos loucos e pelos excepcionalmente talentosos são tão diferentes dos lugares onde os homens e as mulheres banais vivem que quase não existe qualquer terreno comum da memória que sirva de base para a compreensão ou para sentimentos fraternos. Articulamos palavras, mas estas nada esclarecem. As coisas e os acontecimentos a que os símbolos se referem pertencem a domínios da experiência mutuamente exclusivos.»


“We live together, we act on, and react to, one another; but always and in all circumstances we are by ourselves. The martyrs go hand in hand into the arena; they are crucified alone. Embraced, the lovers desperately try to fuse their insulated ecstasies into a single self-transcendence; in vain. By its very nature every embodied spirit is doomed to suffer and enjoy in solitude. Sensations, feelings, insights, fancies - all these are private and, except through symbols and at second hand, incommunicable. We can pool information about experiences, but never the experiences themselves. From family to nation, every human group is a society of island universes. 

«Most island universes are sufficiently like one another to permit of inferential understanding or even of mutual empathy or "feeling into." Thus, remembering our own bereavements and humiliations, we can condole with others in analogous circumstances, can put ourselves (always, of course, in a slightly Pickwickian sense) in their places. But in certain cases communication between universes is incomplete or even nonexistent. The mind is its own place, and the places inhabited by the insane and the exceptionally gifted are so different from the places where ordinary men and women live, that there is little or no common ground of memory to serve as a basis for understanding or fellow feeling. Words are uttered, but fail to enlighten. The things and events to which the symbols refer belong to mutually exclusive realms of experience.» 

in The Doors of Perception - As Portas da Percepção - Aldous Huxley - 1954

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