«Vivemos junto de outros seres humanos, agimos sobre os
nossos semelhantes e reagimos aos gestos deles; porém, sempre e em todas as
circunstâncias, estamos sós. Os mártires entram de mãos dadas na arena; são
crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes tentam desesperadamente fundir os
seus êxtases isolados numa única transcendência; em vão. A própria natureza dos
espíritos encarnados condena-os inevitavelmente a sofrer e a deleitar-se na
solidão. As sensações, os sentimentos, as reflexões, os gostos - tudo isto são
impressões privadas e, exceptuando por meio de símbolos e em segunda mão,
incomunicáveis. Podemos reunir e cruzar informação acerca das experiências
alheias, mas nunca as experiências em si. Da família à nação, qualquer grupo
humano é uma sociedade de universos isolados.
A maior parte desses universos isolados é suficientemente
semelhante entre si para permitir um certo grau de compreensão dedutiva, ou até
empatia mútua ou «partilha de sentimentos». Assim, recordando as nossas
próprias mágoas e humilhações, podemos sentir-nos próximos de outras pessoas em
circunstâncias análogas, podemos pôr-nos (sempre, é claro, num sentido
ligeiramente abstruso da expressão) no lugar delas. Em certos casos, porém, a comunicação
entre universos é incompleta ou até inexistente. A mente é um lugar de
características únicas, e os lugares habitados pelos loucos e pelos
excepcionalmente talentosos são tão diferentes dos lugares onde os homens e as
mulheres banais vivem que quase não existe qualquer terreno comum da memória
que sirva de base para a compreensão ou para sentimentos fraternos. Articulamos
palavras, mas estas nada esclarecem. As coisas e os acontecimentos a que os
símbolos se referem pertencem a domínios da experiência mutuamente exclusivos.»
“We live together, we act on, and react to, one another; but always and
in all circumstances we are by ourselves. The martyrs go hand in hand
into the arena; they are crucified alone. Embraced, the lovers
desperately try to fuse their insulated ecstasies into a single
self-transcendence; in vain. By its very nature every embodied spirit is
doomed to suffer and enjoy in solitude. Sensations, feelings, insights,
fancies - all these are private and, except through symbols and at
second hand, incommunicable. We can pool information about experiences,
but never the experiences themselves. From family to nation, every human
group is a society of island universes.
«Most island universes are
sufficiently like one another to permit of inferential understanding or
even of mutual empathy or "feeling into." Thus, remembering our own
bereavements and humiliations, we can condole with others in analogous
circumstances, can put ourselves (always, of course, in a slightly
Pickwickian sense) in their places. But in certain cases communication
between universes is incomplete or even nonexistent. The mind is its own
place, and the places inhabited by the insane and the exceptionally
gifted are so different from the places where ordinary men and women
live, that there is little or no common ground of memory to serve as a
basis for understanding or fellow feeling. Words are uttered, but fail
to enlighten. The things and events to which the symbols refer belong to
mutually exclusive realms of experience.»
in The Doors of Perception - As Portas da Percepção - Aldous Huxley - 1954
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