Talvez seja injusto entrar em comparações pormenorizadas entre o mais recente filme de Sam Mendes, o aclamado 1917, e algumas outras obras de guerra, e sobre a guerra, com raízes já bem firmes na história do Cinema, mas a verdade é que a ambição evidente de Mendes, por um lado, e as matrizes que pretende homenagear, por outro, tornam quase à partida essas comparações inevitáveis.
Um dos modelos mais facilmente reconhecíveis em 1917 é o filme Paths of Glory - Horizontes de Glória, de Stanley Kubrick, realizado em 1957 - reconhecível logo a partir do modo como a câmara é "encaixada" dentro das trincheiras e se move e segue as personagens de um lado para o outro. São aliás reconhecidos o pioneirismo obstinado na abordagem por parte de Kubrick em Paths of Glory, e o espantoso trabalho de Mendes e do seu "cinematógrafo" de serviço, Roger Deakins, na construção de um fluxo narrativo contínuo e ininterrupto em 1917 - o seu maior trunfo, por sinal.
Só que enquanto 1917 é um gigante com pés de barro, imersivo, realista e portentoso no capítulo técnico mas sofrível na substância (terá alguma?), o filme de Kubrick é uma imensa parábola social, amargo e irónico, carregado de situações absurdas e diálogos mordazes, que denuncia a cobardia, a estupidez humana e a corrupção moral que se encavalitam e escudam nas fontes de poder, em concreto nas hierarquias da patente militar.
Um desses diálogos - um que vale a pena recordar vezes sem conta porque está sempre actual - versa assim:
Sem comentários:
Enviar um comentário