«The old ones called it "the hour of the wolf". It is the hour when the
most people die, and the most are born. At this time, nightmares come to
us. And when we awake, we are afraid.»
Vargtimmen - A Hora do Lobo é a singular incursão de Bergman pelo
território do horror, não abdicando de incluir elementos fantásticos
que associariamos, num "contexto normal", a um qualquer filme de
vampiros. Contudo, conhecendo minimamente o cinema e as motivações de
Bergman, seria impensável esperar que esta fosse uma vulgar fita de
provocar medo, servindo-se para isso de criaturas aterradoras, de sustos
e de efeitos visuais. Estas componentes marcam presença no filme, mas o
medo e o horror intencionados brotam de outra génese: do desmoronamento do amor e do processo de crescente
incomunicabilidade e afastamento entre um homem e uma mulher (território habitual no autor). Ele, Bergman,
faz-se representar por Max von Sydow, e ela, Ullmann, intrepreta-se a si
mesma. O filme será o retrato metafórico daquele momento específico na sua relação, três anos volvidos desde haviam atado uma união, e dois anos depois de Persona. Funciona como uma espécie de grito surdo contra o desespero, a solidão, e
a impossibilidade de duas pessoas que se amam conseguirem permanecer
juntas – (não) triunfando contra o mundo que conspira à sua volta. Segundo a opinião de Erland Josephson (uma da grandes figuras da "família
Bergman", e um dos actores que fazem parte do elenco de Vargtimmen), apesar de toda a carga
simbolica, o filme é dos mais directos do autor – o que equivale a dizer que os monstros e pesadelos ali mostrados são bem reais.
Bergman escreveu mais tarde no seu livro de memórias, Lanterna Mágica:
«No meu filme A Hora do Lobo tentei concretizar a cena que mais me impressionou nesta obra, A Flauta Mágica. É aquela em que Tamino é deixado sozinho no pátio do palácio. Está escuro, ele luta com dúvidas, está desesperado, e diz em voz alta: "Ó noite escura, quando porás fim às tuas trevas? Quando verei a luz nesta escuridão?"
(...)
Em A Hora do Lobo, a câmara regista os demónios que, devido ao poder da música, têm uns momentos de repouso. Depois a câmara fixa-se no rosto de Liv Ullmann. Para mim isso foi uma declaração de amor, terna mas com esperança.»