Duas variações de perspectiva sobre um mesmo espaço arquitectónico.
Confronto entre formas geométricas, sentidos de orientação de linhas e disposições no plano. Confronto ainda entre preto e branco. Algures no espaço intermédio: betão, ferro, vidro, plástico e linóleo.
Equipamento: Canon 6D + Samyang 14mm f/2.8
Tratamento de edição em Lightroom 5.6, a partir de uma mesma imagem em RAW
Uma fotografia mítica, captada no filme Heartworn Highways (1981)
Townes Van Zandt (1944–1997) é apontado como um dos grandes letristas, compositores e intérpretes da música Folk/Country americana do século passado, chegando ser comparado a Bob Dylan (que admirava, e por quem era admirado) no que respeita ao virtuosismo poético, de cariz autobiográfico, que dominava grande parte dos seus temas. O seu nome permanece contudo largamente desconhecido nos dias de hoje, invisível fora do circuito musical mais próximo ao género Country – uma figura de culto que, mesmo depois de ter recebido uma certa atenção mediática póstuma (assinalada, entre outros registos, no aclamado documentário Be Here to Love Me, de 2004), parece ter regressado ao lugar espectral que sempre ocupou em vida: nunca chegou a ter um hit digno desse nome ao longo de toda a carreira, nem nenhum dos seus albuns registou um sucesso assinalável de vendas, e os seus temas de maior popularidade (com destaque para Pancho and Lefty) apenas chegaram ao tops através de covers feitos por outros artistas. A enorme influência e reconhecimento que teve dentro meio, entre pares, não chegou junto do grande público com o mesmo impacto. A Townes Van Zandt não chegou sequer uma oportunidade fugaz que o resgatasse da escuridão, como sucedeu a Sixto Rodriguez (a.k.a. Sugar Man) após décadas de esquecimento.
Morreu cedo, aos 52 anos, vítima de abuso prolongado de drogas duras e álcool, e de uma vida nómada carregada de dor e sofrimento (Van Zandt viu-se desde cedo privado das recordações de infância, apagadas por efeito de um tratamento de insulina para a bipolaridade), parcelas de angústia somadas que transparecem a cada palavra entoada, enquanto em seu redor se erguem melodias singulares a dedos de guitarra, transfiguradoras de sentimentos e emoções. A dor contida nestas canções é terna mas incomensurável, ancorada no coração da província americana e no interior de uma alma despedaçada.
Não sou admirador ou conhecedor de música Country, mas há temas e nomes que consigo apreciar sem reservas, calhe cruzar-me com a audição de um seu registo, e Townes Van Zandt é um desses casos. Deixo quatro sugestões a servirem de cartão de visita, temas que me são particularmente caros na discografia deste autor - escolhas em todo caso difíceis, considerando as dezenas por onde poderia ter optado sem prejuízo para este "pódio". Destaque para as fabulosas melodias (por vezes de uma beleza atroz e dilacerante, veja-se a primeira de todas), para o dedilhar limpo na guitarra, e para as letras e construção poética dos textos.
(Quicksilver Daydreams of) Maria – do álbum Townes Van Zandt – 1969
Pancho and Lefty – do álbum The Late Great Townes Van Zandt – 1972 (aqui em versão ao vivo)
Our Mother the Mountain – do álbum homónimo (1969)
Fare thee well, Miss Carousel – do álbum Townes Van Zandt – 1969
Geraldine & Townes -circa 1977
Nota final: esta entrada no blogue deve a sua existência ao programa da TSF, "Zona de Conforto", de 10 de Outubro passado, apresentado por Pedro Adão e Silva